quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A esperança se desfaz em "goladas"

Na quarta-feira de ontem (05 de Agosto de 2008) estive entediado. A noite estava mais fria que os outros dias, mas não me incomodou. Ao andar pelas ruas parei na casa de um amigo. Havia um movimento intenso... Conhecidos, familiares, desconhecidos... Tudo soava superficialmente bem... Um sorriso crônico e maléfico que nos acompanha, virara rotina. soberbos de uma falsa alegria.
Num canto da sala, uma senhora entre seus 55/56 anos chama a minha atenção. Um rosto pálido, olhar fúnebre, rosto caído de feição triste. Havia ali, mais rugas que o "normal".
Seu único e indomável companheiro, era o copo de cerveja, sempre cheio... A humidade do copo deixava claro que o líquido estava gelado. Em outras palavras, no ponto. Por alguns instantes fiquei ali à observar as sequencias de degustação regadas à goladas insaciáveis, o que dava -lhe um prazer espiritual, sombrio. O corpo não refletia tal emoção. Não me contive, fui ao seu encontro, alimentando a minha fome de informação. Dei asas a minha curiosidade... Não custou muito para uma prévia familiaridade da minha parte, já havia lhe visto pela rua outras vezes... Aparente serenidade, educada, íntegra... Não pude imaginar como ousara submeter-se àquela situação. Não era da minha conta, mas o inconcoformismo causava-me revolta.
Por mais que não parecesse ela queria papo... A prosa fluiu... Lembro que me indagou algo sobre o filho que morrera de acidente de carro.. Exaltara sua dor, sua tristesa - não tenho filhos, mas acreditem, a reciprocidade da dor foi verdadeira - deixara claro, sem assumir, que a bebida não era um refúgio, não estava ali para remidiar-se, era apenas para um vício saciar. Vício esse, matou o filho que dirigia bêbado.
Me irritava presenciar as contrações musculares do rosto, as viriadas estonteantes de olho, as piscadas palsadas, olhar desatento de quem mal enxerga o chão tomado de embreaguez. Típico de adolescente em final de micareta, não ficara bem àquela senhora. Definitivamente, não... Lembro-me que já dei risadas enojadas ao assistir a boçalidade dos "bâbados-palhaços", que agem como ganhadores de mega-sena exbindo-se à ridicularidade alcoolica, mal sabia o quão ruim eram os deprecivos, os cabesbaixos... Desta vez, risadas não me foram proporcionadas, apenas lágrimas, de piedade e de raiva, da triste senhora bêbada e da imaturidade humana.

4 comentários:

Thaís Dourado disse...

Todos precisam de algo em que se apoiar.
Realmente, o ser humano é demasiado imaturo, e mais uma vez essa de "aprenda com os erros, seus e dos outros" falhou.

Luiz Phelipe disse...

E como falhou. Acredito que nem mais existe... O único exmplo conciso é o próprio.

Luara Quaresma disse...

Você escreve intensamente bem!

Luiz Phelipe disse...

Obrigado.