sábado, 7 de março de 2009

Rota 014

É algo que assusta; Tão grande tão estridente. Ah, faz um estrago, não se ponha à frente de forma inoportuna, talvez não volte.

As pessoas necessitam, realmente. Uma parte reclama, mas a outra contenta-se de que a quantia é acessível e a tal necessidade irrevogável .

Antemão há espaço, esse que aos poucos se comprime. Todos se aglutinam, ficam tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes… Enquanto alguns desfrutam de um repouso às pernas outros se debruçam diante dos ferros. Eles se empurram se encaram… De fato, submeter-se àquela situação é um fardo, que por vez é descontado diariamente no guia. Como se ele fosse responsável por alguns dos transtornos, – desses inevitáveis – quando não é ele o que derrama o estresse da rotina desgastante à frente da máquina em seus “subordinados”. Como se os problemas pessoais se solucionassem caso os indivíduos ali presentes sofressem junto a ele. Devem pensar que a falta de educação alivia a tensão. Aí um ponto importante: Educação! Sem dúvida faz a diferença nesse “ambiente” hostilizado pela sensação de vida mesquinha. Sobressai a qualquer cansaço e digo, é até bonito.

Eis os que se isolam na avançada tecnologia da música; um par de fones parece que o retira do planeta por uns instantes, não há interação nenhuma com os que o cercam. É um corpo preocupado apenas em se equilibrar, que só irá “ativar” o raciocínio quando estiver no momento de sair dali… Enfim, muitos saem, muitos outros entram e isso é contínuo, não altera em nada.

No canto um olhar penetrante de um senhor que já não tem idade para tanto esforço, onde não há mais disposição para a corrida do dia-a-dia. Mais atrás uma mulher com um cansaço tão visível que frustra quem fita-la. É como se (quase) todos estivessem a caminho do fim, ou vindo do inferno. Alguns se mostram imunes a tudo, como se nada mais fizesse diferença. O costume em estar ali, fez daquilo, parte essencial à rotina deprimente. À frente uma jovem propagando as palavras de seu Deus, deixando para a (talvez) amiga o quão forte era sua fé em um suposto salvador. Um garoto, de no máximo doze anos, fica diante da abertura de vidro transparente, deslumbrando as (para ele) curiosidades da rua, do trânsito etc. Bestificado com o que se passa.

Uma mulher chama atenção, conversa alto – sempre há os “bons de prosa” fazendo de tudo para que aquele instante, cercado de estranhos (ou não), torne-se o mais agradável possível – ela lastima a morte de um Francisco, “Ah, muita gente gostava dele, viu moça?! Muita gente mesmo! Nunca vi cortejo tão grande!” – sorte, a dela, estar diante de uma senhora disposta a ouvir e retribuir, o que é raro – insistia em deixar claro a bondade e a integridade do homem que morrera. Aparentemente uma mulher que não teve muita instrução, que não teve muitas oportunidades na vida, não muito constituída de conhecimento, mas tinha convicção do que falava. A história continuava, apresentou um ponto de vista sobre a vida, sobre o futuro… Alegava acreditar que todos têm um propósito, um plano traçado por um ser superior, isento de mudanças. Dizia que nunca saberemos o que vai acontecer e que não podemos fazer planos; o que é de ser será… Tinha tristeza nos olhos, voltara a citar o falecido: “Tava indo viajar, moça… Primeira folga do emprego novo, homem bom, viu?! Bom mesmo! Mas Deus sabe o que faz”. Isso incomoda o rapaz ao lado, ele sussurra, sem que ela perceba, algo como, “Então esse Deus mata quando acha que é a hora?! Besteira!”

As “saídas” vão chegando… Aos poucos os integrantes só vão, não mais vêm (por hora). O dia se encerra e a máquina para. Tantos outros virão, essas mesmas (e/ou outras) pessoas estarão lá, para dar continuidade às suas vidas, às suas rotinas. Alguns por pouco tempo, outros até quando isso não for mais preciso; se é que esse dia ainda vai chegar.